1. Conceito de Amputação


Amputação diz respeito ao processo pelo qual se separa do corpo, mediante algum procedimento cirúrgico ou algum trauma, um membro ou parte deste (CHINI; BOEMER, 2007). A amputação é um dos mais antigos procedimentos cirúrgicos, a qual representou durante muito tempo e, em certas ocasiões, ainda representa a possibilidade de maior expectativa de vida (DALL et al., 2005). A amputação deve ser encarada não como o fim do processo terapêutico, mas como uma nova etapa a ser entendida, assimilada e vencida (BARAÚNA et al., 2006). Muitas vezes referenciada como perda, mutilação ou incapacidade, a amputação remete aos indivíduos, na maioria dos casos, pensamentos negativistas, de invalidez e de exclusão (DALL et al., 2005).


2. Incidência


De acordo com o último Censo Demográfico, realizado no Brasil, em 2010, cerca de 45.623.910 pessoas, 23,9% da população brasileira, refere algum tipo de deficiência. Segundo esse censo, mais de 13 milhões de pessoas apresentam deficiência motora, o que corresponde a 6,95% da população do país (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2010).


3. Prevalência e Mortalidade


A deficiência física afeta 6,95% da população, e neste contexto a amputação de membros inferiores continua sendo uma incapacidade extremamente prevalente que representa um problema de saúde pública devido as graves consequências funcionais e o alto custo ao sistema de saúde (HAWKINS et al., 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012).A mortalidade entre pessoas com amputação de membros inferiores (PcAMI) é estimada em 22% e 77% em 30 dias e cinco anos após a amputação, respectivamente (FORTINGTON et al., 2013).


4. Membro Acometido


Estima-se que as amputações do membro inferior correspondam a 85% de todas as amputações de membros (CARVALHO, 2003).Em 2011, cerca de 94% das amputações realizadas pelo SUS foram no membro inferior (MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012).


5. Etiologia


Os traumas relacionados a acidentes de trânsito e de trabalho, doenças ateroscleróticas e diabetes mellitus(MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012; SCHOELLER et al., 2013).As amputações por causas traumáticas acometem principalmente indivíduos mais jovens, sendo 75% dessas no sexo masculino, principalmente por estarem mais expostos aos acidentes por meios de transporte e acidentes de trabalho, frutos da tecnologia moderna. Além disso, ferimentos por arma de fogo, queimaduras severas e descarga elétrica são outras causas(CARVALHO, 2003; MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012; SCHOELLER et al., 2013).


6. Alterações provocadas pela amputação


As PcAMI podem apresentar alterações na circulação sanguínea, no metabolismo, no esquema corporal, no equilíbrio, na marcha, na redução da capacidade de trabalho e na tolerância para as atividade de vida diária (AVD), necessitando de um enfoque especializado para que sua reabilitação seja alcançada (NOLAN, 2012; UNWIN, 2000).


7. Níveis de amputação


Podem ocorrer em diferentes níveis ou partes do membro acometido, como: dedos, acima ou abaixo do joelho, nível da perna e quadril. Deve ser escolhido um nível que assegurará boa cicatrização, com adequada cobertura da pele e sensibilidade preservada. Um nível será tanto mais adequado quanto melhor se prestar a adaptação a uma prótese funcional, uma vez tendo sido satisfeitas as exigências relativas à sua escolha de acordo com a idade, com a etiologia e a necessidade da amputação (MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012; PEDRINELLI, 2004) O nível da amputação mais comum é o transfemoral seguido do transtibial (PEDRINELLI, 2004).


Níveis de Amputação do Membro Inferior: – Hemipelvectomia
– Desarticulação do quadril
– Transfemoral
– Desarticulação do joelho
– Transtibial
– Desarticulação do tornozelo
– Syme
– Parcial do pé


8. Impacto socioeconômico da amputação


Em 2017, no Brasil, apenas as despesas com aposentadorias por invalidez foram calculadas em cerca de R$ 58 milhões (BRASIL, 2017). As PcAMI podem ter sua capacidade laborativa reduzida e enfrentam barreiras para o retorno ao trabalho (CAMPOS et al., 2018; FISHER; HANSPAL; MARKS, 2003), além de apresentarem custos mais elevados por viverem com algum tipo de incapacidade (MITRA et al., 2017). Coletivamente, esses fatores impactam na sua renda e levam-nas a recorrer ao sistema de previdência e assistência social (HANASHIRO; CORREIA; SUGAWARA, 2018; LIMA; CORREIA; SALIMENE, 2016). Nesse contexto, mostra-se relevante a implantação de estratégias para reabilitação e para reinserção social dessa população (Figura 1).


9. O Papel das Políticas Públicas


O Brasil tem avançado na implementação de leis e planos para apoio ao pleno e efetivo exercício da capacidade legal das pessoas com deficiência. Nos últimos anos algumas políticas públicas brasileiras foram instituídas com objetivo de promover o exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência. Em 2011 o Ministério da Saúde instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite, e posteriormente a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. Estas políticas destacam em suas diretrizes a necessidade de garantia do acesso aos serviços de saúde e a reabilitação, preconizando a qualidade e o cuidado integral. A Diretriz Nacional da Pessoa Amputada ressalta a necessidade de ampliação do olhar das equipes multiprofissionais para o cuidado da pessoa com amputação de membro nos diferentes pontos de atenção da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012).


Por se tratar de um procedimento cirúrgico permanente realizado em nível hospitalar, sua complexidade exige a continuidade do cuidado em diversos pontos da rede de atenção a saúde, sendo a Atenção Primária em Saúde (APS) o nível responsável pela coordenação do cuidado e no direcionamento, sempre que necessário, para os demais pontos de atenção de atenção especializada e a reabilitação física (MINISTÉRIO DA SAÚDE SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS, 2012).



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